A Igreja do Bonfim tem importância histórica não apenas para o estado da Bahia, mas para o Brasil. É uma construção quase tricentenária e também um marco da arquitetura, com seu estilo neoclássico e fachada rococó, seguindo os padrões dos templos portugueses do século XVIII. Seu interior é uma verdadeira obra de arte, com a azulejaria e seus afrescos.
Por isso, falar da Igreja do Bonfim vai muito além das questões religiosas e tem tudo a ver com o Anuário de Arquitetura e Decoração. E em 2024, ano em que completa seus 270 anos, o A\D celebra seus traços e sua riqueza cultural, com uma capa em sua homenagem e com esse texto, ressaltando sua memória e curiosidades.
Início da devoção e história da construção
A imagem que deu origem ao culto ao Senhor do Bonfim foi trazida a Salvador em 1745, pelo português, Teodósio Rodrigues de Faria, capitão de navio mercante. Os historiadores contam que ele já era devoto do Senhor do Bonfim, mas foi durante uma tempestade que invocou a proteção do santo e fez uma promessa. Após sobreviver à intempérie, ele trouxe para a Bahia uma imagem do crucificado e a alocou na igreja que estava sendo construída na Colina Sagrada.
Com a chegada da imagem a Salvador, foram iniciadas as obras de levantamento da igreja, em 1946. A escolha do local levou em consideração dois fatores relevantes para a época: a conexão com o divino e a ampla visibilidade. Por isso, ela foi instalada no alto de uma colina. Apesar de a parte interna ter sido finalizada em 1754, a construção da parte externa só teve fim em 1772. Em 1938, o santuário foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A Igreja do Bonfim é um marco da força da fé e do sincretismo religioso. Ela é palco de reverência ao Senhor do Bonfim dos católicos e ao Oxalá das religiões de matriz africanas.
Alguns rituais e curiosidades estão associados à Igreja do Senhor do Bonfim. Quem não é ligado à religião católica pode imaginar que o Senhor do Bonfim é um santo específico, mas ele é a representação, uma figuração de Jesus Cristo Crucificado. Então, no catolicismo, Senhor do Bonfim, Jesus Cristo ou Jesus de Nazaré, por exemplo, são nominações do Filho de Deus.
Sobre os rituais, o primeiro deles, a Lavagem do Bonfim e o seu cortejo que sai da Nossa Senhora da Conceição da Praia em direção ao santuário. O sagrado e o profano se unem em uma celebração de fé, guiados pelas baianas caracterizadas e munidas com água de cheiro, para realizar a lavagem das escadarias da igreja. A festa ganhou o título de Patrimônio Imaterial Nacional, reconhecido pelo Iphan em 2014.
Outro tópico que merece destaque são as mundialmente famosas fitinhas do Bonfim. Elas Historicamente, elas teriam sido criadas pelo português Manoel Antônio da Silva Serva, por volta de 1809, que era o tesoureiro da igreja, com o objetivo de angariar recursos. Inicialmente, eram chamadas de “medidas do Bonfim”, porque possuíam 47, o comprimento exato do braço direito da imagem de Jesus Cristo Crucificado.
O santuário também abriga o Museu do Bonfim, inaugurado em 1975, que reúne um acervo montado pelos fiéis, composto por lembranças, fotos, telas ou objetos entregues em sinal de gratidão pelas graças alcançadas. Cada peça representa um milagre ou realização associados ao Senhor do Bonfim. A maior parte do acervo é de peças feitas em gesso, prata e até ouro, imitando partes do corpo humano.
Em 1991, outro marco para a história da igreja, com a visita do Papa João Paulo II, que levou o Santuário de peregrinação para todo o mundo. Além de rezar aos pés do Senhor do Bonfim, a entidade papal presenteou o local com um cálice de prata, coberto por um laminado de ouro.