Roteiro arquitetônico cheio de história

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Salvador é um centro urbano cheio de história, quando o assunto é arquitetura. A capital baiana possui um vasto acervo, que vai do barroco ao moderno, possibilitando ao visitante construir um roteiro rico e repleto de referências. Esse conjunto arquitetônico é resultado da própria evolução da cidade, que começou em sua fundação. “Salvador nasceu como uma fortaleza, para defesa do seu território e para prestar ajuda às demais capitanias. Depois, foi erigida à condição de primeira cidade do Brasil. É importante compreender o seu DNA, para entender seu processo evolutivo”, conta o arquiteto Francisco Senna.

Enquanto cidade fortaleza, suas edificações e muros eram em taipa, único material disponível naquele tempo. Aos poucos, Salvador foi se transformando em uma cidade de pedra e cal. “Como fortaleza, suas casas eram estreitas e geminadas. Uma cidade voltada para a Bahia de Todos os Santos, em cuja orla sucederam-se constantes aterros, criando a plataforma territorial conhecida como Cidade Baixa”, explica Francisco Senna, que é especialista em conservação e restauração de monumentos e conjuntos históricos.

Expansão urbana

No século XIX, começou a expansão urbana, na direção do distrito Vitória, com amplos lotes, casas recriadas com platibandas e porões altos, jardins e grades de ferro. Tudo facilitado pela revolução industrial e a importação em grande escala de produtos e estilos da Europa, bem como a chegada de comerciantes imigrantes.

A cidade peatonal do período colonial se transformou na cidade das traquitanas, caleches e bondes, do abastecimento de água com seus chafarizes, da iluminação a gás, da navegação a vapor, dos teatros e agremiações literomusicais. No século XX, chega a energia, o automóvel, o ônibus, os cinemas, clubes sociais e esportivos e o comércio de rua com suas lojas e magazines, os hotéis e a vida mundana substituindo a primazia da igreja.

Riqueza arquitetônica do Centro Histórico

No Centro Histórico de Salvador, predominam as construções seculares, ditas coloniais, de seus sobrados, igrejas, conventos, edifícios públicos e fortificações. “Nesse conjunto, as edificações vão do maneirismo, barroco e rococó ao neoclássico, num colorido que alegra os sentidos e distingue as unidades habitacionais”, destaca o arquiteto.

Tombado em 1985 pela UNESCO como Patrimônio cultural da humanidade, a região traz um roteiro pronto ao visitante que busca conhecer essa riqueza arquitetônica da cidade. “É fundamental visitar a Praça Municipal, com destaque para a Câmara Municipal, o palácio Rio Branco e o Elevador Lacerda; visitar as ruínas da antiga Sé, demolida em 1933; o Palácio Arquiepiscopal; o prédio da Santa Casa da Misericórdia e vislumbrar o porto do belvedere da Sé, com destaque para o forte de São Marcelo”, sugere o arquiteto.

Além disso, o roteiro deve incluir o Terreiro de Jesus, com seu valioso conjunto religioso, desde a Catedral Basílica ao complexo franciscano, com seu convento, igreja e ordem terceira. E também os casarios, como os prédios da Faculdade de Medicina.

Arquitetura moderna

A arquitetura moderna chegou tímida e tardia à capital baiana, em meados do século XX. “Na Barra, o edifício Oceania foi um marco, inaugurado em 1943. O Hotel da Bahia foi o precursor da arquitetura moderna sobre pilotis, inaugurado em 1952, seguido do teatro Castro Alves, inovador e monumental, edificado em 1958. A partir dos anos 60 surgiram os modernos edifícios de apartamentos, com playground e varandas”, conta Francisco Senna.

A partir daí a cidade conquista a orla atlântica, com novos bairros e avenidas, condomínios e shoppings centers. “Vem então a Av. Sete de Setembro, em 1915. Mais emblemático é o Corredor da Vitória, com suas mansões, museus e grandes edificações sobre a encosta com piers e teleféricos”, explica o profissional.

Nas décadas de 70/80, nasce outro capítulo importante. “É fase do brutalismo arquitetônico, com as edificações do CAB, as passarelas e construções pré-moldadas. Nesse sentido, vale a pena visitar a Igreja da Ascenção do Senhor no CAB e o Hospital Sarah”, destaca Francisco Senna. Ele sugere ainda apreciar o edifício da Casa do Comércio, na Av. Tancredo Neves, e o antigo Centro de Convenções da Bahia, em processo de ruína. “Salvador é um livro aberto de arquitetura e história, cidade dos contrastes, da conjugação dos acertos e dos absurdos.  Uma cidade viva, multifacetada, colorida, exuberante e única, singular e plural, mas, acima de tudo, fascinante”, conclui.

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